Somos um Estado à Sombra do Crime Organizado. Vive-se, hoje, uma realidade alarmante: o domínio crescente de facções criminosas, com abrangência territorial e poder institucionalizado, que desafiam o Estado e desfiguram territórios inteiros. O Brasil sob o domínio das facções.
PCC e CV
O Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) despontam como protagonistas desse cenário: o PCC, oriundo de presídios paulistas em 1993, reúne cerca de 30 mil integrantes e está presente em 22 estados e no Distrito Federal. O CV, nascido no RJ em 1979, expande-se por ao menos 15 estados — entre eles Acre, Amapá, Ceará, Pará, DF, Goiás e MT.
Levantamentos recentes indicam que há entre 72 e 88 facções atuantes no país, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Ministério da Justiça. Dessas, o Nordeste concentra 46 facções – a Bahia sozinha abriga 21 — seguida pelo Sul (24), Sudeste (18), Norte (14) e Centro-Oeste (10).

Regiões em Foco
A expansão dos grupos é especialmente aguda nas regiões mais vulneráveis. Na Amazônia Legal, o CV e o PCC estão presentes em 178 dos 772 municípios. A estrutura policial nessa região é fragilizada — há apenas 60 mil policiais militares para essa vasta área — o que reforça a sensação de ausência estatal.
No Nordeste, a Bahia concentra múltiplas facções: Bonde do Maluco (BDM), Katiara, Comando da Paz, entre outras, ao lado do próprio PCC e CV. Maranhão abriga o Bonde dos 40 (B40), que domina cerca de 80% de São Luís e se expandiu ao Piauí. Na Paraíba e Pernambuco, o PCC e a Okaida se confrontam, enquanto no RN, a facção local Sindicato do Crime (SDC), aliado do CV e da Família do Norte, disputa espaço com o PCC.
O Combate e Seus Obstáculos
O enfrentamento estatal esbarra em múltiplas barreiras. O sistema prisional saturado é um dos pilares do avanço das facções, que organizam redes criminosas de dentro das cadeias. A falta de integração entre os órgãos de segurança, com cerca de 1.500 agências policiais dispersas, fragiliza a coordenação nacional — algo que especialistas apontam como urgente.
Outro gargalo é a incapacidade de “seguir o dinheiro”: o Coaf não consegue processar os milhões de comunicações de operações suspeitas. A negligência jurídica e a ausência de políticas eficazes de expropriação dos bens dos criminosos transformam o crime em negócio lucrativo e impune.
Caminhos Indicado por Especialistas
Especialistas defendem uma estratégia multifacetada. É urgente modernizar a gestão penitenciária, com separação por grau de periculosidade e maior uso de tecnologia de controle. Ampliar a integração institucional, com ações coordenadas entre as esferas municipal, estadual e federal, e potencializar o Coaf com mais recursos humanos e tecnológicos são medidas críticas.
Na arena legislativa, destacam-se propostas para equiparar as facções ao terrorismo, configurando ações como interrupção de serviços básicos como crime hediondo — uma resposta ao controle territorial imposto por esses grupos. Na seara social, o ativista Jeoás Santos ressalta a necessidade de políticas de inclusão, urbanismo social, retomada de territórios dominados e forte investimento em inteligência, tecnologia e combate à corrupção.
Ponto crítico
O Brasil está num ponto crítico: as facções criminosas consolidaram uma rede diversa e expandida em território, buscando hegemonia sobre comunidades inteiras. O Estado se mostra despreparado, fragmentado, e muitas vezes ausente.
Sem políticas duras, integradas e inteligentes — que envolvam justiça, modernização carcerária, repressão financeira e políticas sociais — o país seguirá refém de organizações cujo modus operandi vai muito além do tráfico: trata-se da dominação de espaços, da economia informal e da autoridade política paralela.
É um problema que exige ação coordenada, imediata e estratégica, sob risco de vermos emergir um “narcoestado” que está se consolida território a território.
QSL News: polícia em foco.