“Ninguém sonha em ser agente penitenciário”: livro da Policial Penal Fabiana Polli expõe bastidores do sistema prisional do Paraná

Cadeados Mentais
Lançado em 11 de julho de 2025 em Curitiba, o livro Cadeados Mentais, da policial penal Fabiana Polli, traz à tona histórias inusitadas do cotidiano carcerário paranaense. Ao longo de sete capítulos, a autora reúne contos inspirados em experiências vividas em unidades como o Complexo Penitenciário do Ahú e a PEP Feminina, revelando realidades pouco conhecidas sobre agentes penais e presos.
No evento de lançamento, participaram cerca de 150 profissionais do sistema prisional, entre agentes, policiais e representantes de entidades de segurança pública. A autora enfatizou que a obra é uma homenagem aos policiais penais, colocando-os como protagonistas, e não ‘coadjuvantes’ da narrativa, reforçando que “ninguém sonha em ser agente penitenciário, é algo que acontece mesmo”.
17 anos de carreira
A publicação tem como pano de fundo os desafios enfrentados pelos profissionais que atuam em presídios. Fabiana Polli, com 17 anos de carreira, abre com relatos que valorizam o agente penitenciário como protagonista, ao lado de histórias dramáticas dos detentos.
Atua desde 2008
A autora atua desde 2008 em unidades como a Penitenciária Feminina do Paraná e a Penitenciária Estadual de Piraquara. Formada em Direito, ela destaca que o ingresso na carreira não é uma “vocação nata”: ninguém cresce com o desejo de atuar em presídios, mas acaba encontrando na função uma “adrenalina constante”, um vício profissional.
Uma carreira em transformação
Fabiana testemunhou a transição dos agentes penitenciários para policiais penais, com atribuições ampliadas e treinamento reforçado:
– Porte de arma institucional (.40 e fuzil)
– Escolta de internos
– Muralha perimetral externa
– Curso de formação ampliado de 30 dias para 90 dias
A mudança fortaleceu a categoria, mas também impôs novos “cadeados mentais” — barreiras psicológicas e operacionais — que a autora explora em seu livro.
Desafios do sistema prisional
A partir dos relatos, Cadeados Mentais* abre discussões sobre a evolução da carreira e os desafios do sistema prisional. A obra cita lacunas operacionais, como a resistência à adoção da mentalidade policial, mesmo com as mudanças institucionais.
Fabiana afirma que o novo título profissional exige mais preparo e técnica. A carreira do policial penal passa a valer-se de supervisão mais rígida, apoio jurídico e maior integração com os demais órgãos de segurança e justiça.
As experiências relatadas podem influenciar gestores e formuladores de política pública penitenciária, o que abre espaço para:
– Revisão de treinamentos
– Melhorias em condições de trabalho
– Projetos de humanização e ressocialização
Monitoramento
Embora sem imagens da operação, o livro destaca a importância do monitoramento constante — inclusive com câmeras e sistemas de segurança perimetral — como aliados dos policiais penais.
Fabiana descreve cenários de controle visual intenso em áreas críticas, o que facilita a atuação proativa dos agentes e reduz riscos operacionais inerentes à custódia de internos.
A obra contribui para a valorização da carreira e fortalece o reconhecimento da função do policial penal na linha de frente da segurança pública.
– Estimula o debate sobre valorização e condições adequadas de trabalho
– Dá visibilidade a uma categoria ainda pouco conhecida pela sociedade
– Pode subsidiar decisões legislativas para equiparação remuneratória e capacitação técnica
Histórias que provocam reflexão
Duas narrativas chamam atenção pela força simbólica e pelo impacto que provocam na percepção pública:
1. Túneis que não levam a lugar nenhum
Dois internos — um deficiente visual e outro com problemas mentais — constroem túneis de fuga. Após meses de trabalho, descobrem que cavaram para dentro da própria unidade. Um total de 16 túneis foram identificados, reforçando a complexidade do controle prisional.
2. O médico infanticida
Um médico preso por suspeita de matar os próprios filhos. A defesa alega overdose, o promotor aponta homicídio. No desfecho, o médico comete suicídio. A dúvida sobre autoria, no entanto, ressalta o dilema entre técnica, investigação e responsabilidade judicial.
Olhar realista
O livro Cadeados Mentais oferece um olhar realista e técnico sobre o sistema prisional paranaense, reforçando a importância da voz dos policiais penais.
A obra deve servir como referência para gestores, formadores de políticas públicas, sindicatos e profissionais de segurança, no sentido de fomentar reformas estruturais.
A experiência da autora amplia a visibilidade da categoria, que agora tem nas páginas de um livro um registro formal de suas lutas, conquistas e transformações — um material que pode contribuir para avanços na gestão e na percepção societal sobre segurança pública no Brasil.
Você pode adquirir o livro aqui ou clicando na imagem abaixo.

QSL News: polícia em foco.