O Brasil vive uma realidade onde o crime organizado não é apenas inimigo do Estado, mas muitas vezes parece beneficiado por ele. Decisões judiciais polêmicas, solturas inexplicáveis e a banalização de apreensões milionárias reforçam a percepção de que a justiça serve mais ao crime do que à sociedade.
Lógica de Impunidade?
Três episódios recentes, discutidos intensamente nas redes sociais, escancaram esse abismo entre a atuação policial e o tratamento dado pela Justiça. Eles revelam não apenas falhas pontuais, mas uma lógica de impunidade que enfraquece o combate ao crime e mina a confiança da população.

O crime como engrenagem do sistema
A frase do analista Roberto Motta — “O crime serve ao sistema” — sintetiza um sentimento cada vez mais comum. A criminalidade não avança apenas pela força das facções, mas também pela complacência institucional que se traduz em benefícios, brechas legais e decisões judiciais contraditórias.
Quando o sistema judicial não pune de forma proporcional, a mensagem é clara: compensa arriscar no crime. E se compensa, as organizações criminosas crescem, expandem sua atuação e se profissionalizam. O sistema que deveria freá-las, na prática, as alimenta.
Prisão milionária e soltura em 24 horas
Um dos casos que gerou maior indignação foi o de um casal flagrado com R$ 25 milhões em drogas. A ação policial resultou em uma apreensão expressiva, que demandou inteligência, logística e risco por parte dos agentes.
No entanto, em menos de 24 horas, os acusados estavam de volta às ruas. Para a opinião pública, o recado é devastador: o trabalho policial é em vão. O tempo, o investimento e, principalmente, o risco à vida enfrentado por policiais perdem valor diante da canetada rápida de um magistrado.
Essa soltura escancara a falta de sintonia entre quem combate o crime nas ruas e quem decide dentro dos tribunais. A discrepância gera revolta e reforça a sensação de impunidade.
244 quilos de cocaína como “pequena quantidade”
Outro episódio ainda mais absurdo ocorreu em Itu (SP). Uma apreensão de 244 tijolos de pasta base de cocaína foi classificada judicialmente como “pequena quantidade de tóxico”.
A decisão não apenas banaliza o peso da apreensão — que, em qualquer país sério, seria considerada um grande golpe ao narcotráfico —, mas também desvaloriza o esforço policial. A mensagem transmitida é perigosa: grandes traficantes podem encontrar brechas jurídicas para transformar crimes gravíssimos em infrações menores.
Esse tipo de interpretação mina a confiança da sociedade e reforça o discurso de que a Justiça brasileira atua de forma seletiva e desconectada da realidade do crime organizado.
Erosão da confiança social
A consequência direta desses episódios é a erosão da confiança social nas instituições.
A insegurança cresce não apenas pela ação do crime, mas pela ineficiência do sistema em punir. Cada soltura, cada decisão contraditória, reforça a sensação de que o crime tem mais proteção que o cidadão comum.
O problema não é isolado. Não se trata de uma decisão ou de um juiz específico. Trata-se de um sistema permissivo, apoiado em legislações frágeis, brechas jurídicas e interpretações que favorecem réus em detrimento da coletividade.
Quando a Justiça falha, o crime agradece
Os episódios recentes não são exceções, mas sintomas de uma crise estrutural no combate ao crime no Brasil. O sistema judicial, ao falhar em sua função de punir proporcionalmente, transforma-se em aliado involuntário — ou até funcional — do crime organizado.
Enquanto policiais se arriscam em operações arriscadas e complexas, criminosos conseguem, em menos de 24 horas, transformar prisões e apreensões milionárias em liberdade.
Acaso o Brasil não enfrentar de forma séria a fragilidade de sua Justiça, continuará a assistir ao crescimento da criminalidade — e à desmoralização das forças de segurança.
QSL News: polícia em foco.