A desigualdade salarial entre as forças policiais brasileiras revela um problema estrutural que ultrapassa a folha de pagamento: a valorização desigual de profissionais que arriscam a vida todos os dias para garantir a segurança pública.
União vs Estados
Enquanto agentes da Polícia Federal e da PRF iniciam a carreira com salários que ultrapassam os R$ 11 mil, em alguns estados soldados da PM e policiais penais recebem menos de R$ 3 mil, um reflexo da desigualdade salarial entre policiais, um problema crônico no país.
A disparidade também se manifesta dentro das próprias corporações, como no caso das Polícias Militares, onde a distância entre o soldado e o coronel pode ser de quase cinco vezes.
Tensões internas
Esses contrastes alimentam tensões internas, fragilizam a motivação dos profissionais e tornam ainda mais difícil atrair candidatos qualificados em estados que pagam menos.
No centro desse debate, sindicatos e associações pressionam por isonomia, enquanto governos buscam equilibrar limites orçamentários e demandas crescentes por valorização.

Panorama Salarial
Há disparidades expressivas entre corporações e no comparativo entre estados. Neste artigo não incluímos a Guarda Municipal, mas você pode ver essa notícia do QSL sobre as CGMs em https://qslnews.com.br/gcm-desafios-e-o-papel-na-seguranca-publica/
- Polícia Militar
Os salários iniciais para soldados variam amplamente. Em estados como o Acre, chegam a R$ 8.130, enquanto no Mato Grosso do Sul ficam em torno de R$ 2.252. A média nacional, incluindo praças e oficiais, é de R$ 8.629 de remuneração bruta e cerca de R$ 6.138 líquidos — com alguns estados muito abaixo disso, como Piauí (R$ 5.362) e Ceará (R$ 6.954) - Polícia Civil
O salário médio bruto nacional gira em torno de R$ 13.342, significativamente maior que o da PM. Por exemplo, na Polícia Civil do Amazonas, o salário inicial chega a R$ 12.948,78, enquanto na Paraíba fica apenas em R$ 4.094,60. - Polícia Federal
Muito mais valorizada, os salários iniciais variam entre R$ 12.522,50 (Papiloscopista 3ª Classe) até R$ 23.692,50 (Delegado 3ª Classe), podendo alcançar R$ 30.936,91 em classe especial. A progressão ao longo da carreira é de aproximadamente 30 %. - Polícia Rodoviária Federal (PRF)
O salário inicial estimado é de R$ 11.114,60, somado a benefícios como assistência médica e auxílio-alimentação. - Outros dados
Dentro da PM, a desigualdade interna é brutal: a remuneração bruta média de um soldado é R$ 6.358, enquanto a de um coronel é R$ 29.033 — uma diferença de quase 4,6 vezes.
A seguir, segue um comparativo entre o salário inicial das polícias militares (soldado e oficiais).
Estado | Sigla | Salários iniciais (Soldado / Oficial) |
Acre | PM AC | R$ 8.129,55 a R$ 10.423,73 |
Alagoas | PM AL | R$ 4.250,06 a R$ 8.099,94 |
Amapá | PM AP | R$ 5.891,26 a R$ 10.297,72 |
Amazonas | PM AM | R$ 5.175,99 a R$ 7.180,34 |
Bahia | PM BA | R$ 3.507,78 a R$ 4.012,11 |
Ceará | PM CE | R$ 5.568,64 a R$ 8.084,05 |
Distrito Federal | PMDF | R$ 7.157,76 a R$ 17.034,85 |
Espírito Santo | PM ES | R$ 5.282,90 a R$ 11.458,40 |
Goiás | PM GO | R$ 7.040,79 a R$ 13.357,60 |
Maranhão | PM MA | R$ 5.124,23 a R$ 10.328,51 |
Mato Grosso | PM MT | R$ 6.003,71 a R$ 17.251,16 |
Mato Grosso do Sul | PM MS | R$ 2.252,25 a R$ 4.826,75 |
Minas Gerais | PM MG | R$ 4.360,83 a R$ 7.175,30 |
Pará | PM PA | R$ 4.923,71 a R$ 5.896,56 |
Paraíba | PM PB | R$ 4.206,87 a R$ 8.745,75 |
Paraná | PM PR | R$ 6.101,87 a R$ 13.731,61 |
Pernambuco | PM PE | R$ 5.617,92 a R$ 12.937,33 |
Piauí | PM PI | R$ 3.470,66 a R$ 5.367,12 |
Rio de Janeiro | PMERJ | R$ 5.233,88 a R$ 11.288,92 |
Rio Grande do Norte | PM RN | R$ 4.245,64 a R$ 11.675,51 |
Rio Grande do Sul | Brigada Militar RS | R$ 5.944,85 a R$ 21.513,44 |
Rondônia | PM RO | R$ 4.054,18 a R$ 8.786,50 |
Roraima | PM RR | R$ 3.732,96 a R$ 5.001,20 |
Santa Catarina | PM SC | R$ 6.000,00 a R$ 16.306,00 |
São Paulo | PM SP | R$ 4.852,21 a R$ 4.833,27 |
Sergipe | PM SE | R$ 3.954,77 a R$ 12.374,80 |
Tocantins | PM TO | R$ 5.763,07 a R$ 10.842,13 |
Impactos da desigualdade
- Motivação e retenção
Disparidades acentuadas desmotivam tanto candidatos quanto servidores em exercício e alimentam a percepção de injustiça interna. - Conflitos institucionais
Há tensão crescente entre corporações — como entre Polícia Civil e PM — devido à valorização salarial desigual. - Eficiência institucional
Estados que pagam menos enfrentam maior dificuldade em atrair profissionais qualificados, o que pode comprometer a qualidade da segurança pública. - Pressão política
Associações e sindicatos já usam os desequilíbrios salariais como bandeira política, reivindicando equiparações e políticas de valorização.
Soluções discutidas
- Reajustes via leis estaduais
Alguns governos estaduais têm promovido reestruturações salariais, mas muitas vezes beneficiam apenas certos segmentos, perpetuando a desigualdade. - Judicialização de salários
Há ações judiciais, especialmente envolvendo aposentados, que buscam correção de distorções, mas têm efeito pontual e lento. - Propostas legislativas
Existem PECs e projetos de lei que defendem um piso nacional para carreiras policiais, mas esbarram em limitações orçamentárias e federativas.
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Segurança pública vulnerável
A desigualdade salarial entre carreiras policiais no Brasil é real, profunda e vulnerabiliza a segurança pública.
Ela não apenas prejudica a motivação e retenção de profissionais, mas também mina a integração institucional e pode afetar diretamente o atendimento às demandas da sociedade. Encontrar soluções exige diálogo sério entre estados, União e corporações — e esse debate já ganhou força nos últimos anos.
QSL News: polícia em foco.