O Brasil como Peça-Chave na distribuição de drogas no mundo.
O Brasil está inserido no tabuleiro do crime global em um ponto crucial: o país não é apenas uma “fronteira porosa”, mas ocupa uma posição geográfica estratégica que o torna um elo indispensável no tráfico internacional de cocaína.
Lugar de Trânsito, Não de Produção
Apesar de não ser grande produtor de coca, o Brasil se consolidou como um entreposto global de distribuição. Em cinco anos, o país mostrou-se como uma verdadeira potência exportadora, especialmente beneficiando facções como Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV).
Corredor Geográfico com Multiplas Rotas
O vasto território brasileiro, a extensa bacia amazônica, as fronteiras com dez países e o litoral atlântico reforçam sua posição de corredor logístico privilegiado.
Apreensões em Territórios Estratégicos
- Em 2023, a região Centro-Oeste liderou as apreensões de cocaína, com destaque para Mato Grosso, que superou toda a região Norte – e o Sudeste, antes dominante, foi ultrapassado;
- Estados como São Paulo (231,8 toneladas acumuladas), Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são pontos críticos nas rotas do narcotráfico..
Facções com Logística Avançada
O PCC tem evoluído além do tráfico de drogas: avançou em logística sofisticada, com conexões em países vizinhos (Paraguai, Bolívia, Colômbia) e mercados europeus e africanos . Isso o torna não apenas um grupo nacional, mas um ator transnacional no crime organizado.
Um Microcosmo dos Problemas Globais do Crime
Mark Shaw, diretor da Iniciativa Global Contra o Crime Organizado Transnacional, define o Brasil como um microcosmo dos desafios globais — encarando o país como consumidor, corredor e produtor de diversos mercados ilícitos, e com baixa resiliência institucional.
Com atuação próxima de grupos como Ndrangheta e facções balcânicas, além de infiltração institucional, como milícias no Rio e controle do transporte público por parte do PCC, o Brasil enfrenta uma problemática criminosa multifacetada.
Riscos para a Democracia e Segurança
Organizações criminosas que se infiltram em instituições e corroem o Estado de Direito representam uma ameaça ao exercício democrático. O editorial do O Globo destaca: “O aumento do poder das organizações criminosas fragiliza a democracia”.
Reforço das instituições
Mais do que uma simples passagem, o Brasil ocupa hoje uma posição estratégica no crime global: é corredor, consumidor e palco de disputas entre facções sofisticadas. As fronteiras territoriais são apenas uma parte do problema — há também a fragilidade institucional, a corrupção sistêmica e a coesão entre crime e setores formais.
Para enfrentar esses desafios, não basta ação policial isolada: é preciso reforçar as instituições, combater a infiltração dos grupos nas estruturas do Estado, e adotar políticas integradas de segurança, fronteiras e cooperação internacional.

PCC e Comando Vermelho como Grupos Terroristas
Nos últimos anos, autoridades norte-americanas vêm defendendo que facções brasileiras, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), sejam reconhecidas internacionalmente como organizações terroristas. A proposta surgiu em meio ao crescimento da atuação transnacional dessas facções, que hoje mantêm conexões com cartéis mexicanos, grupos mafiosos europeus e organizações criminosas africanas, movimentando bilhões de dólares no tráfico de drogas e armas.
A lógica dos EUA é que tais grupos não apenas dominam o narcotráfico, mas também ameaçam a estabilidade democrática e a segurança internacional, características típicas de organizações classificadas como terroristas. A medida permitiria ampliar os instrumentos de combate, como bloqueio de bens, restrição de transações financeiras e maior cooperação entre agências de inteligência.
No entanto, especialistas brasileiros alertam que a classificação pode ter efeitos colaterais. Um deles é a internacionalização da agenda de segurança pública nacional, reduzindo a autonomia do Brasil no enfrentamento interno às facções. Outro risco seria o aumento da pressão externa para que o país adote medidas mais duras, possivelmente militarizadas, sem resolver as causas estruturais do problema, como corrupção, lavagem de dinheiro e fragilidade institucional.
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