A imagem mostra viaturas da **Polícia Federal** estacionadas em frente a um conjunto de prédios modernos, de fachada espelhada, em área urbana.

A PF é uma polícia política?

PF é “polícia política”? O que disseram ontem e o que dizem hoje

O debate sobre (des)politização da Polícia Federal (PF) muda conforme o vento político. Na Lava Jato (2014–2018), líderes do PT denunciaram abusos e “espetacularização”, enquanto parte da oposição e, depois, o governo Temer exaltavam o trabalho.

Em 2022–2025, com a PF conduzindo investigações sobre o 8 de Janeiro e casos envolvendo Jair Bolsonaro e aliados, o quadro inverteu: dirigentes petistas elogiam e a oposição fala em perseguição e abuso. A seguir, recortes documentados dessas duas fases.

Fase Lava Jato

PT critica PF; oposição e situação elogiam

PT questiona conduções, vazamentos e “excessos”

  • Mar 4, 2016 — Lula após condução coercitiva: disse ter se sentido “ultrajado” e “magoado” com a ação da PF; pediu ao STF a suspensão de atos da Lava Jato. (Agência Brasil, Folha de S.Paulo)
  • Dez 6, 2017 — Gleisi Hoffmann critica operação da PF e fala em “perseguição” contra o PT, ao mesmo tempo em que afirma que os governos petistas deram autonomia à PF. (Senado Federal)
  • Críticas à condução midiática da Lava Jato também aparecem em registros oficiais (“espetacularização chegou a um limite insuportável”, disse jurista ouvido pela Agência Brasil). (Agência Brasil)

Oposição (à época) e, depois, o governo Temer defendem a operação e a PF

  • Mar 2016 — Oposição reafirma apoio à Lava Jato no Congresso e usa a pauta para pressionar o governo Dilma. (Agência Brasil)
  • 2016 — Aécio Neves (PSDB) diz apoiar a Lava Jato e que investigações mostrariam “a falsidade” de citações contra ele. (El País Brasil)
  • Jun 2016 — Ministro da Justiça de Temer declara apoio “total” à Lava Jato; Temer (2016) disse que a operação prestava “importantes serviços ao país”. (Agência Brasil, Polígrafo)

Observação: o período também tem ambiguidades — enquanto elogiava, parte da classe política citada pela Lava Jato tentou se defender e, em alguns casos, reagiu a investigações. Esses registros não anulam os elogios públicos listados acima, mas ajudam a entender a complexidade desse ciclo.

polícia política: A imagem mostra três policiais federais de costas, caminhando por um corredor interno. Eles vestem camisetas pretas com a inscrição “Polícia Federal” em letras amarelas e portam equipamentos na cintura.
Foto – Governo Federal Divulgação.

Fase 2022–2025

PT elogia a PF; oposição fala em abuso e “perseguição”

PT e governo Lula valorizam o trabalho da PF em casos de 8/1 e conexos

  • Mai 8, 2023 — Gleisi Hoffmann defende apuração firme após “novos áudios golpistas”; posição alinhada à continuidade das investigações conduzidas pela PF. (Correio Braziliense)
  • Fev 8, 2024/2025 — Operações sobre 8/1 e “Tempus Veritatis”: Lula afirma esperar que a PF atue “do jeito mais democrático possível” e que os responsáveis sejam punidos; em 2025 reforça que “ninguém foi ou será preso injustamente” nos atos de 8/1. (Gazeta do Povo, CNN Brasil)
  • Mar 2023 — Flávio Dino (então MJSP) elogia operação da PF que prendeu suspeitos de planejar crimes contra autoridades. (Serviços e Informações do Brasil)

Oposição atual critica a PF, fala em abuso e politização

  • Fev 2024 — Operação “Tempus Veritatis”: líderes da oposição chamam a ação da PF de “perseguição política”. (Gazeta do Povo)
  • Mar 2024 — Oposição critica abordagem da PF a um estrangeiro antes de ato pró-Bolsonaro, em audiência no Senado. (Senado Federal)
  • Mar 25, 2025 — Manifestos e críticas após medidas cautelares impostas a Bolsonaro; congressistas falam em “punição antecipada” e “abuso”. (Poder360)
  • Jan 19, 2024 — Partidos de oposição divulgam manifesto contra operação da PF envolvendo o dep. Carlos Jordy, questionando a condução das investigações. (CNN Brasil)

Contexto internacional/geral: a PF teve papel central em prisões e diligências ligadas ao 8/1 ao longo de 2023–2025, inclusive com repercussão externa. (AP News)

Linha do tempo resumida

Lava Jato (2015–2017)

  • 2015–2016 | PT critica ações da PF/Lava Jato: Lula e petistas questionam conduções e excessos. (Agência Brasil, Folha de S.Paulo)
  • Mar 2016 | Oposição apoia PF/Lava Jato: oposição organiza obstrução e reafirma apoio público. (Agência Brasil)
  • Jun 2016 | Governo Temer elogia PF/Lava Jato: ministro fala em apoio “total”; Temer defende a operação. (Agência Brasil, Polígrafo)
  • Dez 2017 | Gleisi critica operação da PF: fala em perseguição ao PT. (Senado Federal)

2022–2025

  • Mai 2023 | PT apoia avanço das apurações: Gleisi defende investigações após achados da PF. (Correio Braziliense)
  • Fev 2024 | Oposição chama operação da PF de “perseguição” (Tempus Veritatis). (Gazeta do Povo)
  • Mar 2024 | Senado: oposição critica abordagem da PF antes de ato pró-Bolsonaro. (Senado Federal)
  • Jan 2025 | Lula diz que responsáveis por 8/1 serão punidos; reforço de confiança no processo conduzido pela PF. (CNN Brasil)
  • Mar 2025 | Oposição volta a falar em “abuso” após medidas a Bolsonaro. (Poder360)

Inversão retórica

Os registros confirmam uma inversão retórica: na Lava Jato, PT criticava — principalmente procedimentos da PF na operação — enquanto a oposição e, depois, o governo Temer elogiavam e abraçavam o discurso de “autonomia” e “dever de investigar”.

Entre 2022 e 2025, o PT/governo passou a validar e elogiar o trabalho da PF em casos como 8/1, enquanto a oposição passou a questionar as ações, apontando supostos abusos e “politização”.

As fontes acima mostram que o debate sobre a “polícia política” é menos um veredito institucional e mais um espelho do lugar de cada ator no tabuleiro — quando investigado, critica; quando beneficiado, elogia.

Autolimitação é o caminho

O vaivém de críticas e elogios à Polícia Federal mostra menos a existência de uma “polícia política” e mais a forma como atores políticos interpretam — ou instrumentalizam — o trabalho da instituição conforme sua posição no jogo. Na prática, a PF não age por vontade própria: suas operações decorrem de ordens judiciais e de solicitações do Ministério Público Federal, que conduzem a tramitação processual.

Se há percepção de politização, ela se dá no uso político do discurso sobre a instituição, e não em sua estrutura de funcionamento. O mesmo ato da PF pode ser lido como “exemplo de autonomia” por um grupo e como “abuso de autoridade” por outro, a depender de quem é investigado.

O desafio, portanto, não é transformar a PF em algo que ela já não seja, mas sim que os poderes passem a se autolimitar, evitando excessos na exposição pública, garantindo devido processo e respeitando a separação de funções. O fortalecimento de mecanismos internos de controle, aliado ao compromisso de cada poder em não instrumentalizar investigações, é o caminho mais sólido para preservar a credibilidade da PF e assegurar que o combate ao crime continue sem ser sequestrado pelo embate político.

QSL News: polícia em foco.

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